segunda-feira, 12 de março de 2007

Ora bem...

O Dr. Bairrão Oleiro, director do Instituto Português dos Museus, por si só o parente pobre do Ministério da Cultura, vem anunciar algo que não sabiamos, mas ficamos a saber por ele, principal gestor da Instituição: OS MUSEUS NÃO TÊM DINHEIRO. E de quem é a culpa? Do Ministério que não envia o dinheirito necessário, da Ministra que parece que se interessa mais por outras áreas que não os museus, do estado do Estado? Bom, parece-me bem claro que até agora, a culpa não pode ser dos coitadinhos directores de museus que até planeiam exposições.
Os museus portugueses parecem-se, em tudo, com os museus europeus, com uma diferença, sem público. E de quem é a culpa? Mais uma vez, do Estado, do Ministério ou da Ministra? Não me parece...
Vejamos: o museu de Arte Antiga, onde estive há pouco tempo, tem uma esplanada fantástica com vista para o rio, tem um edificío maravilhoso com casas de banho de discoteca do novo milénio. Mas público, nem vê-lo. Ou seja, o problema dos museus em Portugal não é de estilo, nem por sombras, nesse aspecto cumprimos e superamos as permissas internacionais, é mesmo uma questão essencial de planeamento.
Qual é, então, o problema? É básico, e extende-se para outras matérias que vão além da cultura, o que não deixa de ser preocupante.
Em Madrid, entrei no Prado para ver as obras de Hieronymus Bosch ou "El Bosco", além de outras extraordinariamente interessantes, mas aquelas eram as que mais me atraiam em todo o Museu. E lá estão, numa sala dos anos 70, com os desumidificadores à vista, com legendas datilografadas, mas eficazes, com um guarda que parou no tempo, com pequenas marcas do tempo nas paredes, enfim, numa sala com "uso".
Em Lisboa, entrei eu no Museu de Arte Antiga para ver as obras deste artista e, o que é que fiquei a saber no meio de tudo isto? Os suportes dos objectos foram concebidos pelo arquitecto Blá Blá Blá, as legendas foram criadas pelo atelier de design do Mestre ZZZZ (que também cobrou um batatal de dinheiro por um catálogo para um evento de um dia), o chão tinha sido remodelado pelo supra-sumo das obras de chão em instituições públicas, e a cor da parede era a última moda da estilista Agatha Ruiz de La Prada, as pseudo informações poderiam ser dadas por alguém que não estava na sala de todo. O que é que sabemos sobre o Bosch, no meio disto tudo? Pouco, que afinal combina bem com as paredes, que está numa sala com um chão porreiro, que tem umas legendas bonitas mas absolutamente codificadas para ninguém perceber, e que afinal não era assim tão importante para a sua época, porque o que aparece descrito são códigos do próprio museu.
O Dr. Bairrão Oleiro tem toda a razão quando diz que não há verbas para os Museus e que muito património se está a perder neste país por uma total inércia nesta área, mas bem vistas as coisas, para que serve ter gente nos museus se não tivermos o chão da moda, os catálogos tão caros que ninguém compra, as casas de banho topo de gama, o design moderno e arrojado que os ateliers tão bem sabem fazer? Os museus não precisaram de trabalhadores até agora, mas precisaram de vitrines topo de gama, de exposições tão caras que até coramos com o preço (que ninguém vê porque não são divulgadas), de catálogos que só baixam de preço para metade nas promoções de natal (porque até lá ninguém compra), de eventos para elites e de exposições para pseudo-intelectuais com hábitos e gostos bizarros. Por isso não me parece preocupante que os Museus se queixem da falta de gente para trabalhar, também não há público para receber, no entanto, têm equipamentos topo de gama...
Um abraço felino,
L.

PS: há assuntos sobre os quais ainda existe uma certa censura interior, este é um deles, por isso fico-me pelo óbvio.

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