terça-feira, 6 de março de 2007

Não há nada como o soninho da casa dos papás...

Hoje descobri que ainda sonho como se estivesse lá.
Quando acordo cedo levo um certo tempo a perceber onde estou. Faz parte, sempre foi assim, mesmo quando me acontecem coisas altamente estranhas, eu levo uns minutos a voltar à realidade, à minha cama, ao meu colchão e às fotografias na parede. Isto não é corrigível, sempre foi assim e será no futuro, e também não me incomoda. Na verdade até me agrada, adormeço sempre com pensamentos pragmáticos do dia a dia (tipo: tenho que estender a roupa, amanhã vai chover, a reunião de condomínio tem que ser marcada, tenho que tirar o gelo da arca, a vizinha do segundo andar é mal educada, tenho que ligar...zzz...zzz...zzz...), e acordo sempre com a cabeça na lua (tipo: o passeio de bicicleta na praia, o picnic nas montanhas, o mar dos açores, casa de banho, sos, casa de banho, levantar...). Ah tenho que ir à casa de banho...
Isto não me suscitaria nenhum problema, se não fosse pelos pensamentos maravilhosos que tenho no fim do sono, que na derradeira linha da meta, ao acordar, desaparecem como fumo. A minha safa é sempre esse momento em que não sei bem onde estou, parece tudo possível nesses segundos. Estou sempre em sítios onde já estive e com pessoas que amo. Aliás, quanto mais tempo passa desde que deixei aquele quartinho pequenino de menina, mais me convenço nesses segundos que ainda estou lá. O meu pai vai fazer um cacau quente para o pequeno almoço e vai haver pão de centeio, a minha mãe está a arejar a sala, o meu irmão saíu de madrugada para ir de bicicleta lá onde o Judas perdeu as botas, a paixão pelo actor arrebatou-me e deixou-me nas nuvens e o almoço está quase pronto. Depois olho para as fotografias da parede e penso: afinal parece que já és crescidinha, quem diria?!
A possibilidade de errar, os sonhos infantis, os desejos secretos de ser alguém e de fazer alguma coisa pelo mundo estão no mesmo sítio onde ficaram essas manhãs de fim de semana. É por isso que não há nada como o soninho na casa dos papás, não se volta para a infância, volta-se para o sítio onde está tudo por sonhar e onde tudo é realmente possível...
Bons sonhos,
L.

1 comentário:

Yakunna disse...

Olha que bonito...gostei imenso de ler este teu acordar!!

beijos!