segunda-feira, 3 de julho de 2006

Pantagruel deixa a seguinte mensagem no blog (a gerência felina agradece):

Os vizinhos são (uma das muitas) armas de deus para castigar os pecadores. Realmente não se escolhem e, ao contrário da família que, a determinada altura da tua vida podes optar por manter perto ou fugir dela e ganhares independência, não tens forma de escapar. São os apêndices que ficam do outro lado do muro/parede, quer a fazer "niiiiiiii", quer de copo encostado a escutar, que te vão, gradualmente e em leves prestações, infernizando a vida. Existem vários modelos de vizinhos e, enquanto referes o modelo "apartamento", à que não esquecer os restantes modelos, onde se destacam (pela parte que me toca) o modelo "moradia/aldeola" e, até determinado ponto da minha vida, o modelo "bairro de suburbios de vivenda".

O primeiro modelo, mui reservado e sempre desconfiado, não promove o contacto directo e mantêm-se à distância o mais possível e por quanto tempo conseguirem ("you´re not a local" já havia quem dissesse). Quando pensas que não conheces ninguém no sítio onde moras, podes ter a certeza que TODOS (vizinhos, compadres dos mesmos, comadres, pessoas do café, merceeiro, padre, senhorio e afins) sabem da tua vida privada. Bonito não é? É sim senhor. O problema é quando promoves o primeiro contacto. Aqui começa a doer: olham de lado para ti quando não repetes a proeza ("o quê? já não me fala?!?!"; os teus amigos são estranhos e raramente bem vindos, sendo premiados com um olhar reprovador de "baza!"; se falas mais do que "bom dia" ou "como está?" já pensam "mau! tá a crer saber muito"; fazem "panelinha" para te manteres sempre ligeiramente à parte e, só com referências de pessoas influentes na aldeia, como o senhorio ou o padre ( para este efeito, o merceeiro ou o simpático senhor do café não servem), te esboçam um sorriso. Obviamente o modelo "moradia/aldeola" tem as excepções à regra, que a confirmam, e que se apresentam como pessoas simpáticas e prestáveis que, ao possuírem uma horta no lugar do quintal, te oferecem, de boa vontade, produtos naturais de origem caseira. Estas excepções à regra, por norma geral, promovem o primeiro contacto.

O modelo "bairro de suburbios de vivenda" são aqueles vizinhos que te conheceram a vida toda, amigos dos teus pais e avós, que se referem a ti sempre com o diminutivo de "inho/a" no fim do nome, e que, no caso do sr. do café ou da mercearia, facilmente podias ir buscar coisas sem dinheiro e dizer "a minh'ávó depois paga" sem nunca teres problema. Ao contrário do modelo descrito anteriormente, todos te conhecem e conheces todos, sabendo inclusivé o nome de todos. Simpáticos sempre, têm um problema: quando o verniz estala. A comunidade de bairro é unida e amiga do vizinho, até saberem que alguém foi injuriado por outém teu conhecido ou familiar, ou que chegaste bÊbado a casa e urinaste, por motivos de força maior à porta do café, sem saberes o que fazias, tudo culpa da quantidade de alcool que te corria no sangue. A partir desta instância, o modelo "bairro de suburbios de vivenda" apresenta-se com personalidade multipla: a capa e o que esta esconde. A capa, mantém a simpatia e a amizade referidas anteriormente, quando em confronto directo com a tua pessoa; o que esta esconde, revela-se quando viras as costas e não estás presente: falam mal de ti nas costas, criam e espalham boatos irreais, como que em vez de te estares a aliviar contra a porta do café, estavas na realidade a tentar derreter, com ácido úrico, a fechadura para assaltares o café; e a partir daqui começam os comentários do género "eu sabia! cada vez que vinha pedir um café olhava para tudo", e "nunca me enganou! eu sabia! nunca foi flor que se cheirasse!" ou mesmo "e vinha sempre a rir! ainda nos gozava! eu sempre disse que era má influência para os nossos filhos!"...

Enfim, vizinhos são assim... Não é escolher, é ter sorte e esperar que possamos ser piores para eles do que o são para nós!

Quinta-feira, Junho 29, 2006

1 comentário:

Zorbas disse...

A teoria de vizinhança é boa e explica como funciona país. Se estás por dentro do círculo apertado, ainda bem, contamos contigo para o que der e vier, se estás por fora, azar, tentamos ser educados e tal, mas estamos de olho em ti.