segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

385 543 portugueses acham que isto no tempo do Salazar é que era...

Lamentavelmente, não há muitos adjetivos para classificar os 385 543 portugueses, 385 543 (pelo menos são 150 000 a menos que os que votaram no energúmeno para presidente), que acharam que a alternativa ao poder constituído, passa por eleger um energúmeno que ambiciona o poder absoluto.

Que tipo de desespero leva 385 543 portugueses a achar que não há alternativa? É a vontade de voltar a ter uma ditadura? O Alzheimer precoce atacou-os? Será isso, ou então será falta de noção sobre o que significa eleger um bronco chico esperto para líder de um país? Ponham os olhos nos exemplos mais próximos, resultou? Nem por isso.

Os líderes dos restantes partidos, da esquerda à direita, têm um longo e marcante cartão vermelho, porque encheram o debate político de formas e não de substâncias, que deram ao energúmeno e aos seus capangas margem de manobra para discutir formas (já que substância não têm nenhuma).

A imprensa, que leva o energúmeno ao colo, também tem um cartão vermelho, porque aponta a tudo o que mexe do lado do energúmeno, enquanto isso vender. A imprensa dita credível e séria, ontem, em pleno discurso de um dos líderes de direita, continuava a encher o ecrã com o energúmeno aos pulos e aos urros, deixando um quadrado da imagem não audível com o discurso de cumprimento dos liberais ao país. Isto é levá-lo ao colo para a Assembleia, como este pequenino exemplo, será tudo o que permitiram que ele dissesse ao megafone, ao longo dos últimos anos. Uma coisa é garantida, a imprensa independente não tem lugar no modelo de governação deste energúmeno.

Finalmente, como reflexão, a educação deste país vai pelas ruas da amargura. A cidadania, disciplina que tanto incomoda, deve sim ter conteúdos políticos. A juventude deste país deve saber o que significa uma opção de direita e de esquerda, uma opção de voto nulo ou de voto em branco, e o que significa a abstenção. Os pais deixam de votar e os filhos não ouvem os pais falar de assuntos políticos. Ouvem queixas, mas zero mobilização, ouvem dizer mal deste ou de um outro, que está no poder, mas na hora H vêem os pais no sofá da sala a dizer umas larachas. Enquanto assim for, a iliteracia cívica dará ao povo aquilo que o povo merece, o chico espertismo de uma minoria oportunista, que por falta de comparência dos restantes, foi ocupando terreno.

Aos 385 543 portugueses resta perguntar: sabem o que legitima o poder democrático? A vigilância do povo. Cá estaremos para o efeito.

Voltamos a um post do longínquo ano de 2021, a propósito da eleição presidencial, agora numa versão revista e aumentada, para quando aquele gajo do comentário desportivo, que urra umas cenas na Assembleia, ocupar o seu lugar, acompanhado com mais 11 capangas, que, se não nos enganamos muito, há semelhança do que fez o partido do Hitler antes de tomar o poder, vão querer convencer o resto do país de que este não é seguro e que precisamos de um partido de força bruta para levar isto por diante (uma linguagem que agrada, e muito, os 385 543 portugueses que ontem lhe deram votos)...

Luto por 385 543 portugueses.

385 543 que gostam de ser enganados por um bode que urra, agora com mais 11 capangas para urrar com ele (como o gajo se evidenciou no meio desportivo, precisa de uma claque para repetir os urros).

385 543 que se afastarão das decisões públicas e que não terão legitimidade para as debater, porque querem fundar uma nova república (sabe-se lá o que pensam que significa a palavra República, e ainda mais o que pensam da palavra Democracia).

385 543 que não concordam com a promíscua subsídiodependência (também querem devolver o dinheiro europeu? O princípio é o mesmo).

385 543 que se afastarão do centro de emprego, porque não precisarão de subsídio quando a hecatombe da crise económica e social desabar em cima das nossas cabeças (sendo que alguns já vão com uns valentes meses de avanço nesta hecatombe).

385 543 que se afastarão das creches (as que resistem), das escolas e das universidades públicas, em particular das faculdades de medicina do país (que custam muito dinheiro ao erário público, e ainda bem!), porque acreditam no ensino privado e nos privilégios do ensino privado.

385 543 que se afastarão dos tribunais, porque a nova república que querem fundar terá um supremo líder que decidirá sobre todos os aspectos da vida deste país, e porque o Estado não pode, nem deve subsidiar a defesa de gente que não é de bem (mesmo que seja num litígio matrimonial).

385 543 que prescindirão de receber as vacinas que constam do plano nacional de vacinação, porque o Estado não tem que suportar essas despesas (boa sorte com o sarampo, tosse convulsa e tuberculose).

385 543 que deixarão morrer a ciência em Portugal, porque esta é uma das áreas onde o privado não vê vantagens em investir (boa sorte com a próxima pandemia).

385 543 que querem deixar morrer o combate ao analfabetismo, desigualdades e exclusão social, que com todas as limitações vai fazendo o seu caminho (a sopa dos pobres em Lisboa fica nos Anjos, para quando perderem o emprego).

385 543 que querem deixar os "velhos patrões" tão bonzinhos e tão simpáticos com os seus trabalhadores, tomar o poder e cilindrar os seus direitos, conquistados a pulso nos anos que se seguiram ao 25 de abril (esta data, a propósito, deixará de ser um marco no nosso país). 

385 543 que querem Fátima, Fado e Futebol de novo, só para entreter (boa sorte a tentar atirar para baixo do tapete as alarvidades dos amigalhaços do vosso supremo líder).

385 543 que acreditam na ideia de um país inseguro, para depois nos venderem a ideia de um estado de sítio que precisa de força bruta (boa sorte com o que se segue).

385 543 que acham que os pedófilos têm que ser castrados quimicamente e que a pena de morte é indispensável para a justiça do país (boa sorte quando chegarmos ao modelo árabe de cortar a mão aos ladrões de fruta).

385 543 que querem deixar morrer a cultura portuguesa (boa sorte...).

385 543 analfabetos da democracia, que não perceberam que em 40 anos passámos da pobreza franciscana (para usar termos que vos são próximos), para a eficácia jesuíta.


Um abraço felino (não para estes 385 543 mil, que me dão náuseas).

Zorbas, 

O Gato grande, preto e gordo.

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