quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Infelizmente a morte também faz parte das nossas vidinhas...

Quando se tem um avô tipógrafo, um pai tipógrafo e uma avó encadernadora, a vida parece que circula à volta de jornais, livros e letras em geral. Eu nasci a ver ler livros e jornais diariamente e por isso estou eternamente grata! O avô sempre a puxar a coisa para a escrita, a avó para a beleza de alguns livros e o pai para as notícias.

Ora, quando tive idade para escolher o meu jornal, lá pelos idos da adolescência, abandonei (com tristeza devo dizer, porque adorava os cadernos de artes e a secção infantil) o Diário de Notícias, onde um dos meus tios "fazia uma perninha" na composição gráfica do jornal. A Capital, apesar de alguns meritórios cronistas e jornalistas era graficamente "pesada". O MEC, que tanto adorava, deixava as suas maravilhosas crónicas no Independente e o Expresso, gigante naquela altura, era mais carote.

Por isso, e quase por acaso, o Público do Vicente Jorge Silva era o jornal mais "sexy" das bancas e assim começou uma longa história de dependência minha, que se mantém, principalmente pelo prazer de leitura de um jornal e pelo prazer da tinta nos dedos quando chego ao fim.

Os tempos serão outros, porque nos primórdios vingava um entusiasmo com as crónicas do Eduardo Prado Coelho, e era o mote para o início da leitura, o edital do Jornal era sempre o segundo ponto a ler, o resto era sempre a somar.

A contenção na manchete (que agora descuram mais frequentemente), a abordagem política da esquerda à direita , a panóplia de cronistas dos mais diferentes quadrantes, a fotografia cuidada, o melhor caderno cultural da imprensa portuguesa (perdoa Pedro Rolo Duarte mas o Y leva a melhor) e o interesse pelas notícias científicas e espaço para as apresentar, foi o que me manteve durante estes anos todos.

Assim, não conhecendo Vicente Jorge Silva, ele entrou na minha adolescência com uma proposta de jornal que ainda hoje leio. Livrem-se caríssimos directores, presente e futuros, de deixar de honrar o projecto que o vosso mentor criou.

Até sempre caríssimo Senhor Director do Jornal.

Um abraço felino. 

Zorbas, 
O Gato Grande, Preto e Gordo

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