terça-feira, 12 de maio de 2020

Escavar profundamente a nossa liberdade

#sejamhonestos

Quarentena - dia 52 (entre a casa e o desconfinamento parcial)....

Os dias correm, as notícias continuam a explorar a já inexplorável virose colectiva, as pessoas estão a definhar por coisas mais ou menos banais, como beber café na esplanada. E contudo, no meio desta loucura de regras e regrinhas para nos afastarmos uns dos outros, fica a minha dúvida sobre as liberdades de cada um, que me chegam em pequenos apontamentos banais do dia a dia...

A mágoa com as regras e regrinhas, que se pretende que cubram as necessidades humanas, é com as que retiram todas as possibilidades (e, consequentemente, excluam uma miríade de oportunidades) aos artistas e às respectivas equipas técnicas da sua principal ocupação criativa.

A cultura, como necessidade básica da humanidade, tem paisagens muitos díspares no país (arrisco a dizer pelo mundo fora), o que é triste. A tristeza é, na verdade, uma bela chapada na tromba, porque a cultura não é entretenimento. Para mim é uma missão e, neste momento, está a ser sujeita a uma longa prova de esforço, que: 

    1. uns entendem claramente como tal e estão prontos a calçar os sapatos dos artistas, procurando com eles soluções; 

    2. outros procuram que o universo se realinhe, e pensam que a inactividade vai acabar cedo e com danos controlados (só que não, não nos parece e pelo caminho já perdemos muito);

    3. outros ainda, por comodismo, ignorância, arrogância e outras ânsias, encontram nos momentos mais difíceis uma oportunidade para abafar a arte e sobrepor-lhe o entorpecimento...

E a chapada é isto mesmo, começam a faltar exemplos claros de quem entende a cultura como missão, e não como outra coisa qualquer, para servir outros propósitos.

A saúde é fundamental? É claro que sim! A justiça também, assim como a segurança, a educação e a cultura, entre outras coisas. São muitos vértices de um prisma cheio de liberdades individuais e colectivas, que para os governos dos países, e do ponto de vista financeiro, não valem todos o mesmo, mas que, independentemente do momento, apenas se distinguem no valor por razões ideológicas (mesmo quando o mundo enfrenta pandemias). 

Agora, como em todas as alturas negras da história, a visão que se tem para a cultura é sempre uma das primeiras pedras que se tira do saco do deve e do haver, normalmente para poupar uns trocos (nem 1% do PIB em Portugal, ring a bell?) e, por incrível que nos pareça, em pleno século XXI, doí muito a muita gente para que volte a entrar no saco outra vez...

Um abraço felino,

Zorbas,
O gato grande, preto e gordo.

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