O Que Verdadeiramente Mata PortugalO que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a desconfiança. O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espectaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espíritos. Não se pressentem soluções nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadência. A política, sem actos, sem factos, sem resultados, é estéril e adormecedora.
Quando numa crise se protraem as discussões, as análises reflectidas, as lentas cogitações, o povo não tem garantias de melhoramento nem o país esperanças de salvação. Nós não somos impacientes. Sabemos que o nosso estado financeiro não se resolve em bem da pátria no espaço de quarenta horas. Sabemos que um deficit arreigado, inoculado, que é um vício nacional, que foi criado em muitos anos, só em muitos anos será destruído.
O que nos magoa é ver que só há energia e actividade para aqueles actos que nos vão empobrecer e aniquilar; que só há repouso, moleza, sono beatífico, para aquelas medidas fecundas que podiam vir adoçar a aspereza do caminho.
Trata-se de votar impostos? Todo o mundo se agita, os governos preparam relatórios longos, eruditos e de aprimorada forma; os seus áulicos afiam a lâmina reluzente da sua argumentação para cortar os obstáculos eriçados: as maiorias dispõem-se em concílios para jurar a uniformidade servil do voto. Trata-se dum projecto de reforma económica, duma despesa a eliminar, dum bom melhoramento a consolidar? Começam as discussões, crescendo em sonoridade e em lentidão, começam as argumentações arrastadas, frouxas, que se estendem por meses, que se prendem a todo o incidente e a toda a sorte de explicação frívola, e duram assim uma eternidade ministerial, imensas e diáfanas.
O país, que tem visto mil vezes a repetição desta dolorosa comédia, está cansado: o poder anda num certo grupo de homens privilegiados, que investiram aquele sacerdócio e que a ninguém mais cedem as insígnias e o segredo dos oráculos. Repetimos as palavras que há pouco Ricasoli dizia no parlamento italiano: «A pátria está fatigada de discussões estéreis, da fraqueza dos governos, da perpétua mudança de pessoas e de programas novos.»
Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'
O Zorbas partilha com os amigos os problemas metafísicos que enfrenta na sua vida felina.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
R.I.P. Madiba
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Sensações
Sobre o próximo Orçamento de Estado...
(Abrindo a caixa de pandora sobre as piadas que se podem fazer à volta dos seus principais "conspiradores" e dos efeitos causados ao comum dos contribuintes).
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
Assistência Técnica ou o Processo do Kafka!
"Assistência Técnica da ---, bom dia, fala..." "Bom dia tenho uma avaria no serviço e estou a ligar-lhe do meu telemóvel de uma operadora concorrente porque o telefone também não funciona..." "Com certeza, em que posso ser útil?" "A box, o modem e o telefone não funcionam, como pode ajudar então?" "Vou transferir a chamada para a nossa assistência técnica..." FAMILIARIZADOS? "Obrigada". Ninguém avisa que as transferências de chamadas para a assistência técnica têm um custo de x + z e mais o couro cabeludo! Ok, podemos ligar de um telefone fixo, fica mais barato, mas as instruções são impossíveis de seguir se não estivermos ao lado do aparelhómetro (que nesta altura já apetece é deitar fora pela janela) e depois vem o parvalhão do assistente técnico demorar entre 5 e 10 minutos para perceber o nosso problema! E entretanto o telemóvel da rede concorrente continua a marcar... Esclarecido o técnico seguem-se instruções - desligue a box e volte a ligar (ah, obrigada, sou tontinha e não tinha experimentado isto ainda!), as 44 luzes do modem estão a piscar? SIM, sem parar desde que dei conta que esta COISA se tinha avariado. Pode por favor carregar prolongadamente no botão da BOX? Sim, posso, algo que já fiz e até já testei os parâmetros todos que era possível, e verifiquei que tenho um erro em todos eles (TUDO FALHA!), finalmente siga as instruções do aparelho - mas quais instruções, ---, Aguarde por favor?! Posto isto vem o senhor dizer, 15 MINUTOS DEPOIS DO INÍCIO DA CHAMADA, realmente tem uma falha geral na linha, vou ter que mandar um técnico!!! OUÇA LÁ, quem é que provocou a avaria? Quanto é que pagamos por mês por alugar este merdoso serviço? Quem é que tem a responsabilidade de o resolver? Então por que raio de razão tenho que gastar 15 minutos do meu telefone da concorrência (que FUNCIONA NA PERFEIÇÃO E SOBRE O QUAL NUNCA ME COBRARAM CHAMADAS A COMUNICAR AVARIAS...)? Isto é kafkiano e a minha paciência terminou aos 2 minutos de chamada, quando ainda era possível manter o serviço, agora só me apetece mandar-vos às urtigas e escolher a concorrência, que ainda por cima é mais barata! Mas o que é que temos afinal? SERVIÇOS FIDELIZADOS... portanto temos que vos gramar nos próximos meses, mas não deixo de vos querer dizer em letras garrafais VÃO À MERDA mais o vosso serviço! E sim, no final de tudo isto, como gente educada ainda dizem "posso ser útil em mais alguma coisa..."
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